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Um atropelamento fortuito

junho 1, 2009

Campanha Neozelandesa

O texto abaixo é um e-mail aberto a todos, enviado por mim para aqueles que são responsáveis pela segurança de milhões de paulistanos. Leia, encaminhe, divulgue.

Caros secretários Eduardo Jorge e Alexandre de Moraes,

No último dia 7 de maio, fui atropelado por um ônibus. Felizmente, estou bem. Por sorte não faço parte das estatísticas da CET sobre mortes relacionadas ao trânsito. Por isso o título dessa mensagem, e por isso escrevo esta mensagem: em nome daqueles que não tiveram a mesma sorte.

Fui atropelado em uma rua calma, no bairro da Aclimação, por um motorista mal treinado e inconseqüente. Eu estava fazendo meu caminho diário para o trabalho, em minha bicicleta, quando o motorista me fechou para parar em um ponto, cerca de 5 metros à frente. Ultrapassei-o e acelerei o ritmo para atravessar rapidamente uma porção mais estreita da rua, onde não é possível compartilhar a via. Dessa forma, tomei conta da pista, de maneira que ficasse claro ao motorista que ele não deveria tentar me ultrapassar. Esse trecho tem menos de 100 metros e, logo a frente, a ultrapassagem com segurança é possível.

Mas não foi o que aconteceu. Logo aos 20 primeiros metros o motorista me alcançou e acionou a buzina, não para me avisar de sua presença (como ele sugeriu à polícia e se faz desnecessário pelo seu tamanho e barulho), mas para me assustar e ameaçar. Olhei para trás para ver onde, exatamente, ele se encontrava e decidir minha próxima ação. Pretendia pedir paciência ou, caso ele estivesse forçando a barra, encostar em uma vaga qualquer de carro para esperá-lo passar. Reitero que a rua é estreita e tem veículos estacionados em ambos os lados.

Não foi possível fazer nada. Quando comecei a olhar para trás, ele já batia na roda traseira da bicicleta, me jogando para o chão e, por pouco, não passando por cima do meu VEÍCULO. Chamei a polícia, fui atendido no PS e continuo com dores no ombro direito. Mas não é por isso que eu escrevo este e-mail. Conto o ocorrido apenas para efeito de contexto.

Sei que existe um projeto de educação para motoristas de ônibus. Mas o fato é que não é suficiente. A CET precisa sinalizar as vias para legitimar a presença de bicicletas – que já somam 300 mil viagens por dia e aumentam todos os meses. O trânsito de veículos automotores não pode ser privilegiado sobre o das pessoas. Coletivos, bicicletas e pedestres somam um número muito maior e muito mais carente de respeito do que os carros. Esse acidente – que não foi acidente, já que se o motorista seguisse a lei e respeitasse o ciclista, ele não teria acontecido – poderia ter sido evitado se motoristas de ônibus não fossem expostos a situações estressantes diariamente. Se fossem treinados corretamente e cobrados por isso. Se houvesse sinalização nas vias legitimando bicicletas e punindo os infratores. Aqui, serei enfático: se a SPtrans PUNISSE INFRATORES devidamente.

Já fiz 5 ou 6 reclamações na SPtrans sobre motoristas de ônibus que agiram de maneira parecida comigo, e mesmo assim, não reclamei todas as vezes em que isso aconteceu. Conheço diversos ciclistas que passaram pelo mesmo problema e o fato é que nada é feito a respeito. Motoristas não são punidos, não são ensinados. Alguns anos atrás pegar um ônibus em SP era terrível – motoristas não paravam no ponto, não esperavam o passageiro entrar, etc. Com fiscalização da SPtrans o problema melhorou realmente, o que prova que é possível a mudança. Educação é fundamental, mas a punição educativa também.

Não é possível que uma vida humana seja mais menos importante do que a fluidez motorizada, ainda mais quando ela representa menos de 30% do total de deslocamentos. Pedestres são desrespeitados, faixas de seguranças estão apagadas por toda a cidade. A sinalização é ineficiente e as multas não são aplicadas quando o atentado é contra a vida – e não contra a fluidez. Se a preocupação da CET é a segurança, então é preciso ensinar o motorista a compartilhar a via e respeitar o ciclista – a começar daqueles que é possível controlar, já que são funcionários a serviço do município: os motoristas de ônibus.

Aproveito para estender meu pedido ao secretário Eduardo Jorge, membro do Pró-ciclista, pedindo que obras como as ciclovias da Faria Lima e da Marginal e o plano cicloviário do Butantã sejam agilizados. Embora não me atinjam diretamente – a rua em que fui atropelado nunca seria contemplada com uma ciclovia, já que é uma região tranquila e depende somente de sinalização – essas obras ajudariam muitos ciclistas que passam diariamente por situações muito mais perigosas do que eu. Como eu disse, estou tentando falar por aqueles que não podem ou não puderam.

Por outro lado, ciclovias não são a resposta para tudo, portanto é preciso ações conjuntas, que podem ser mais baratas e de simples implementação, trazendo segurança a ciclistas e pedestres e incentivando o uso de formas alternativas de locomoção. Recentemente um colega fez um cálculo simples, avaliando a quantidade de viagens por bicicleta na cidade (300 mil) e dividindo pela capacidade dos ônibus (74 passageiros). Seriam necessários mais de 5 mil ônibus extras para levar toda essa gente. Cidades como Londres, Nova York, São Francisco e Paris investem pesado em melhoramentos cicloviários. E eles não se baseiam em ciclovias, mas em ciclofaixas – demarcações simples no chão que legitimam e protegem o ciclista.

Reforço meu apelo: ajam rapidamente e evitem mortes desnecessárias. Porque não há nada pior do que uma morte que poderia ser evitada.

E, por último, peço ação imediata: como ficará meu caso e o de tantos outros que sofrem com a violência dolosa do trânsito paulistano?

Espero suas respostas,
Vitor Leal Pinheiro.

Ps. Segue um exemplo simples e ação educativa implementada na Nova Zelândia que fala justamente sobre o compartilhamento da via – e veiculada em ônibus.

17 comentários

  1. É isso aí Vitor, temos que cobrar mesmo! Mantenha-nos informados com as respostas dos secretários.

    Abraço.


  2. Espero que respondam…

    Abs


  3. Ótima argumentação, Vitor, e você está vivo, e isso é dupla alegria para mim. A maior porque você é um colega de pedal e amigo de convívio próximo, a outra é que você é uma testemunha viva de uma tentativa deliberada de assassinato, das tantas que ocorrem sem repercussão nessa cidade.

    Sua indignação pública, seu clamor por justiça e providências, é agora a voz de todos que pedalam quase que quixotescamente em São paulo, num ato que se revela solitário pela política de mobilidade irresponsável adotada na cidade.

    Como colega nessa aventura, te envio força e perseverança, porque é luta entre Davi e Golias, mas você tem a arma do discernimento exato do certo e do errado ao seu lado, do argumento justo. Você defende o lado da verdade das ruas, e não se consegue ignorar a verdade para sempre.

    Abraço

    Márcio Campos


  4. Obrigado Vitor!
    Por ser alguem que se faz valer e pensa em nossos demais iguais.

    Para quem nao me conhece, sou Guilherme, e tenho 17 anos. Começo agora a ler, me informar, e participar de movimentos ciclisticos.

    Lhe agradeço principalmente, por divulgar essa carta a qual enviou a secretaria, e dar exemplo a demais que temos direitos, e entre eles esta o de ser respeitado no transito seja qual for nosso meio de transporte.

    desejo a ti melhoras e resposta dos secretarios! mais uma vez, obrigado por estar lutando por uma causa que nao é só minha, nem só sua, mas de toda a população!
    um abraço


  5. Não querendo soar pessimista, mas… O problema está sendo enunciado do ponto de vista urbanístico, mas na verdade é político.
    A partir do pouco caso que os dois secretários demonstraram no episódio do fechamento da Marginal Pinheiros, tive a impressão de que na rua prosseguiremos podendo contar apenas conosco, por vezes tendo de assumir uma lamentável e desnecessária posição de confronto aberto com esses administradores públicos, ao menos até serem trocados por outros com a mente menos insensível. O que nos fará esperar no mínimo até a próxima eleição. Ou quando a massa de bicicletas na rua começar realmente a incomodá-los de verdade. Chances para diálogo construtivo já houve e foram todas desperdiçadas, na contramão de todas as outras grandes cidades do mundo.
    Mas como sua carta deixa claro, algo precisa ser feito já. Se a inércia deliberada dos secretários prosseguir e nós, as pessoas que usam as ruas sem carros, precisamos incomodá-los até que se mexam, vamos em frente.
    A partir do momento em que os administradores públicos assumem que há um problema sério de segurança no trânsito, mas privilegiam a fluidez em vez da segurança, estão assumidamente colocando vidas humanas em perigo de propósito e deverão ser co-responsabilizados pelos acidentes.


  6. Alguém te respondeu?


  7. Obrigado pessoal pelos comentários e o apoio. Já recebi uma resposta do Eduardo Jorge, que me convidou para um evento no domingo (eu ainda não sei o que é). Assim que receber algo mais concreto, posto aqui.

    Márcio, vamos sim continuar lutando para que essas coisas deixem de acontecer. Valeu.

    Guilherme, é fundamental cada um de nós não ceder à preguiça que os trâmites da justiça brasileira impõe. Vamo que vamo.

    Ao Mário, às vezes eu compartilho do seu pessimismo. Mas aí eu lembro que cidadania é cobrar e fiscalizar também, mesmo que isso seja difícil e cansativo. Como diz o Márcio, a verdade não pode ser ignorada para sempre. E como dizia um ex-chefe: somos como pernilongos. Pequeninos mas incomodamos.


  8. Olá Vitor.

    Sou participante da Bicicletada-SP e acompanho a lista de discussões quando posso.

    Nós estamos cada vez mais acuados no trânsito dessa cidade. Existe algum respeito com relação aos ciclistas na cidade, mas não o suficiente. Quando há qualquer desrespeito, ele pode ser fatal.

    No dia 19/05/2009 eu quase fui assassinado por um motorista de ônibus, quando ia de bicicleta para um restaurante almoçar. Fui ultrapassado a uma distância mínima, há menos de 50 centímetros! Por muita sorte não sofri nenhum impacto, mas pude ver de perto tamanho desrespeito a vida! O mais impressionante e decepcionante foram os momentos seguintes. O motorista me ultrapassou de forma irresponsável para chegar primeiro ao próximo cruzamento – a menos de 50m – que estava com o semáforo vermelho! Com muita indignação e sensatez, fui conversar com o motorista…

    Eis que o profissional incapacitado e ignorante comentou (obviamente) que tinha me visto, mas que não tinha “encostado” em mim. Pra piorar, ele argumentou dizendo: “Você queria o quê? Que eu jogasse o ônibus em cima dos carros?!”.

    Como eu posso argumentar com um ser desses!?!?!?

    Não vejo as reclamações a SPTrans, a Prefeitura e as Viações darem resultado. Acredito que nem estatisticamente isso influencie em algo.

    Espero que o Poder Público acorde para esse problema, e que seja logo. Não podemos mais perder vidas que poderiam ser preservadas com um pouco de boa vontade de alguns. *É preciso educar os cidadãos e punir efetivamente as infrações*. Só assim haverá respeito.

    Muito obrigado por sua carta. Estamos juntos nessa luta.

    Estimo melhoras a você.

    Um abraço,

    Santiago Luz


  9. […] acompanha o blog sabe do meu “acidente” e sobre a carta aberta que escrevi para Alexandre de Moraes e Eduardo Jorge. Ainda estou devendo um segundo post sobre o […]


  10. SR. SECRETÁRIO ALEXANDRE DE MORAES

    VENHO ATRAVÉS DESTE SOLICITAR VOSSA INTERVENÇÃO REFERENTE ASSUNTO DE DESBLOQUEIO DE ALVARA Nº 023.681-25 , SOLICITADO ATRAVÉS DO PROCESSO EM EPIGRAFE, QUE ESTÁ SENDO JULGADO HÁ MAIS DE 01 ANOS INJUSTAMENTE. SAIU PUBLICADO O INDEFERIMENTO NO DIA 27/06/2009 EM VOSSO D.O.M PAG. 20. SOU PAI DE FAMILIA E TENHO SOMENTE ESTE EMPREGO. NÃO SEI POR QUE ESTÃO JULGANDO MEU PROCESSO POR VIA DE COMÉRCIO. ESTÃO JULGANDO QUE USO O ALVARÁ PARA COMÉRCIO, MAS NUNCA USEI PARA COMÉRCIO SOMENTE FIZ TRANSFERÊNCIA LEGAL POR QUE NÃO HÁ EMISSÃO DE ALVARAS ATUALMENTE. DETENHO ESTA LICENSA DESDE 2006 E NUNCA OCORREU PROBLEMAS.

    ESTOU PRECISANDO DO DESBLOQUEIO. POIS FICO PARECENDO MARGINAL E ILEGAL ATRAVÉS DA FISCALIZAÇÃO EFICIENTE DO DTP. FICO SENDO PARADO E RESOLVENDO PROBLEMAS COM CONSULTAS DA MINHA PLACA E QUANDO RENOVO O ALVARÁ OU QUALQUER SOLICITAÇÃO TENHO QUE FICAR PEDINDO AUTORIZAÇÃO PARA O DTP/AJU.

    PRECISO DE VOSSA AJUDA, POIS SOU MOTORISTA DE TAXI E NECESSITO TRABLAHAR EM PAZ. EXISTE UM TID 3052607 QUE FOI GERADO UM OFICIO NÚMERO 206/2009 EXPEDIDO POR DTP/AJU QUE FOI ENCAMINHADO PARA DTP/GAB, INFORMANDO SOBRE ESTE ALVARÁ. FAVOR INTERCEDER PELA MINHA CAUSA. APROVEITO PARA DESEJAR UM OTIMO DIA DE TRABALHO E FELIZ DIAS DOS PAIS.

    GRATO,

    CESAR SABINO JUNIOR
    CONDUTAX 104.695-32
    ALVARÁ 023.681-29
    FONE: 11 8626-8195


  11. […] todo o tempo. Tinha muito receio de pedalar sem ele, criticava quem não usava. Foi então que um ônibus da Transpass me atropelou. E quer saber? Minha cabeça não chegou nem próxima ao chão. E não fui o […]


  12. Boa noite

    Hoje tenho sorte de estar aqui para escrever o que ocorreu ontem 21/03/2010. estava voltando para casa por volta das 8:30 PM com minha bike muito bem sinalizada com luzes e com capacete quando um trolebus na av. conselheiro carrão na zona leste de SP quase me esmagou entre um carro parado e ele.
    o guidãoda bike virou um V o retrovisor e a lateral do carro parado ira prescisar de uma boa reforma e estou desde então a base de analgesicos e antiflamatórios. O mais interessante é que quando fui questionar o motorista o mesmo desceu junto do cobrador com ameaças de me agredir , joguei a bike pra cima deles e mandei virem, bom após esse ocorrido fui seguindo o onibus até o terminal onde iria fazer uma reclamação. pedi para um dos seguranças anotar a placa do onibus, já que no momento de nervoso fiquei ” burro ” . Quando fui conversar com o responsável do terminal Carrão a mesma disse que prescisava da placa do veiculo que não foi anotada por eles, mesmo o onibus estando para durante uns 10 minutos e eles sabendo do ocorrido.
    Bom resumindo, fiquei com a bicicleta danificada com o corpo todo inchado, mas graças a Deus estou vivo.


  13. É, Vitor, hoje, pedalando para ir ao trabalho, eu também fui vítima de uma situação similar a sua, fui fechado por uma Lotação, que da mesma maneira ficava buzinando para mim, sendo que eu ocupava a faixa da direita. O correto seria ele tomar a pista da esquerda, que estava livre e me ultrapassar sem por em risco a minha vida. Mas não foi isso que aconteceu, ele simplesmente conseguiu me atingir no auge da sua ignorância e, com muita sorte, consegui sair dessa sem nenhum dano físico nem material. Agora irei entrar com reclamação, boletim de ocorrência e inclusive um processo para buscar uma punição e alguma providência para que evite casos como esse no futuro comigo e outras pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte.


  14. […] Um atropelamento fortuito […]


  15. Estou processando a Transpass também… fui atropelado de moto por um ônibus deles… a SPTrans no processo disse que nada tem com isso e o juiz aceitou a saída deles…


  16. […] Leia o texto completo de Vitor Leal Pinheiro publicado no Blog Quintal […]


  17. […] Leia o texto completo de Vitor Leal Pinheiro publicado no Blog Quintal […]



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